O poder da neuroplasticidade
- Bárbara Barnabé
- 13 de jun. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de fev. de 2022
Vivemos em uma época marcada pelo imediatismo, gostamos das coisas instantâneas, queremos tudo para ontem. Isso acaba gerando bastante desespero, ansiedade e angústia de estar atrasado ou em dívida. Você se reconhece nessa posição?

A cultura do imediatismo é fortalecida pela pressão externa que gera comparação com algo. Mas pensa comigo, para se ter um parâmetro de comparação é necessário ter um histórico desse padrão, certo? Você não inveja um cabelo bonito de uma pessoa por causa de uma foto, geralmente você o acha bonito porque já viu diversas vezes bem cuidado e arrumado.
Logo, é contraditório querer instantaneamente uma coisa que levou tempo e esforço para ser conseguido. A própria cultura do imediatismo é contraditória já que o termo "cultura" se refere a tudo aquilo que sobrevive ao tempo, mantendo-se vivo graças ao respeito aos valores do passado.
A definição foi apresentada pela primeira vez pelo professor Douglas Rushkoff da Universidade de Manhattan em seu livro "Present shock: When everything happens now” ou “Choque do presente: quando tudo acontece agora", lançado em 2013. De acordo com ele, na cultura imediatista o passado não existe e o futuro é sempre incerto. Ou seja, no imediatismo, predomina uma espécie de fechamento para as lições do passado e um certo desdém pelo futuro.
Entretanto, não é apenas porque o passado não pode ser alterado que ele precisa ser esquecido. Muito menos porque o futuro é incerto que seu planejamento deve ser negligenciado. A causa principal desse fenômeno é a internet, que deu acesso fácil e rápido a maioria das coisas, deixando as pessoas mais impacientes, com ânsia para resolver todos os problemas no agora. Nunca antes o homem teve acesso a tanta coisa em tão pouco tempo e isso o aliena.
Mesmo hoje sabendo que o cérebro não é um órgão fixo e imutável, - porque até bem recentemente acreditava que o Sistema Nervoso Central (SNC), após seu desenvolvimento, tornava-se uma estrutura rígida, incapaz de gerar novas conexões e células, - ele necessita de um tempo para adaptar-se e modificar-se, ele não funciona no modo imediato que estamos tentando demandar dele atualmente.
O processo de neuroplasticidade ou plasticidade neuronal, que é a capacidade do sistema nervoso de alterar a sua morfologia e fisiologia de acordo com os estímulos internos e externos que sofre diariamente, ou seja, de se moldar às adversidades do meio em que se apresenta, ocorre de maneira mais notável na infância, mas ocorre em todas as fases da vida.
Esse fenômeno de plasticidade e de regeneração permite a formação de novas redes e circuitos neurais, a partir da modificação de algumas das suas propriedades funcionais em resposta às alterações do ambiente. Logo, ter o hábito da leitura, praticar atividades físicas, alimentar de forma saudável, aprender outros idiomas e tocar instrumentos musicais são fatores que a estimulam o cérebro, permitindo que esse indivíduo tenha uma capacidade de aprendizado mais rápida.
A neuroplasticidade constitui um processo fisiológico intrínseco do ser humano, sendo fundamental para o processo neuroquímico do aprendizado e da memória, pois estes se fazem mediante a formação de novas conexões cerebrais. Esta está diretamente atribuída ao contato com estímulos, se uma pessoa não tem o hábito de conhecer novas habilidades e atividades, as suas conexões nervosas tendem-se a atrofiar provocando assim maior dificuldade no aprendizado.
Segundo o psicólogo canadense Donald Hebb, o nível de exercício pode modificar a força da conexão sináptica entre dois neurônios. A chamada lei de Hebb consiste em uma espécie de “musculação sináptica” e envolve um mecanismo no qual as conexões entre dois neurônios são reforçadas com a atividade contínua entre eles. E da mesma forma ocorre seu enfraquecimento com a falta de ativação destes. A plasticidade do SNC ocorre, classicamente, em três estágios: desenvolvimento, aprendizagem e após processos lesionais.
Desenvolvimento: a maturação do SNC inicia-se no período embrionário e só termina na vida extra-uterina;
Aprendizagem: ocorrer a qualquer momento da vida de um indivíduo, propiciando o aprendizado de algo novo e modificando o comportamento de acordo com o que foi aprendido;
Após processos lesionais: os mecanismos de reparação e reorganização do SNC começam a surgir imediatamente após a lesão e podem perdurar por meses e até anos.
Após o nascimento a atividade plástica cerebral diminui consideravelmente, mas nunca deixa de existir. Por esse motivo que as crianças têm mais facilidade de aprendizado do que os adultos e os idosos. A capacidade do cérebro de sofrer alterações sinápticas permite que os circuitos neuronais se transformem, consistindo em um processo constante e contínuo visto que está impreterivelmente ligado a uma adaptação ao ambiente circundante e às novas experiências que vão surgindo.
Também é importante perceber que mudanças permanentes estruturais e fisiológicos geradas a partir da exposição constante a estímulos externos podem promover alterações comportamentais e psicológicas, tanto positivas quanto negativas. Portanto, exposição constante de indivíduos a condições de estresse e ansiedade crônica, podem gerar alterações comportamentais que levam a quadros depressivos, processo conhecido como plasticidade comportamental.
Esta característica única faz com que os circuitos neuronais sejam maleáveis, sendo a base da formação da memória e da aprendizagem, bem como na adaptação à lesões e eventos traumáticos ao longo da vida. Todo o processo de reabilitação neuropsicológica se baseia na convicção de que o cérebro humano é um órgão dinâmico e adaptativo, capaz de se reestruturar em função de novas exigências ambientais ou das limitações funcionais impostas por lesões cerebrais.
Em resumo, a plasticidade neural é definida como a capacidade do sistema nervoso modificar sua estrutura e função em decorrência dos padrões de experiência, e a mesma, pode ser concebida e avaliada a partir de uma perspectiva estrutural (configuração sináptica) ou funcional (modificação do comportamento). Por isso é tão importante ter constância nas atividades que desempenha se deseja um resultado, afinal as mudanças necessárias não ocorrem de forma instantânea no nosso corpo.
Relembrando que o excesso de estímulos não faz o cérebro ou alguma habilidade ser aprimorada mais rapidamente, apenas gera obesidade mental, que provoca muitos malefícios. Todas as coisas levam tempo para serem desenvolvidas, com nossas competências não é diferente. A neuroplasticidade pode ser sua melhor amiga como também sua maior inimiga, depende de como a utilizar, se ao seu favor, fortalecendo conexões benéficas, ou contra você.
Como você tem lidado com ela? Tem conseguido respeitar o processo necessário para o melhor desenvolvimento?
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