Autoconhecimento focado na carreira?
Autoconhecimento já foi um tema tratado aqui (se ainda não leu sugiro dar uma olhada antes), mas por ser uma soft skill extremamente importante e muito ampla, hoje a trago com uma nova abordagem, relacionada à vida profissional.
Todo mundo em algum momento irá trabalhar, seja em empregos formais ou não. Inclusive o trabalho costuma preencher uma grande, geralmente a maior, parte da vida de uma pessoa. No Brasil, ainda, é muito presente a cultura de trabalhar muito para conquistar o "sucesso", que é um padrão socialmente definido e que, na verdade, deveria ser um conceito pessoal e particular (mas precisarei deixar esse texto para outra oportunidade).
O que acontece é que as pessoas crescem em uma sociedade onde certas profissões são mais valorizadas e, assim, muitos tentam se encaixar no esperado para eles sem perceber, ou perceber tardiamente, que isso não os farão felizes e realizados. Por isso o autoconhecimento em relação ao trabalho se faz também essencial. Saber reconhecer seu estilo de trabalho e suas âncoras de carreira deveria ser um pré-requisito para a vida profissional.
De acordo com a Fundação Estudar: estilos de trabalho são crenças, mais específicas que valores, voltadas para o ambiente profissional. Eles refletem o ambiente de trabalho onde você tende a ser mais produtivo e satisfeito. Estudos relacionados a estilos de trabalho começaram a ser realizados com o objetivo de identificar o grau de compatibilidade entre as pessoas e as empresas/ocupações que possuem.
Na década de 90, três acadêmicos americanos, Charles O’Reilly III, Jennifer Chatman e David Caldwell, mapearam organizações e indivíduos em busca de um teste que pudesse medir o alinhamento cultural. Chegaram a basicamente oito atributos que criam a cultura e o estilo de trabalho corporativo, que são:
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Agilidade: pessoas com esse aspecto elevado possuem preferência por ambientes que buscam ação e velocidade, onde a calma é menos valorizada.
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Atenção a detalhes: neste caso a preferência é por ambientes analíticos, onde se preste atenção em tudo que está acontecendo e onde a qualidade seja valorizada.
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Estabilidade: associado a quem prefere ambientes organizados e nos quais as coisas são bem definidas.
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Orientação para resultado: pessoas assim gostam de ambientes voltados para execução, onde o que importa é o que foi feito e não valorizam tanto o como as coisas são feitas
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Agressividade: é um tipo que prefere um ambiente que valorize e estimule a competição e foco.
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Ênfase em recompensa: nesse quesito há preferência por locais com muitas oportunidades de crescimento e de ganho para quem está disposto a fazer o que é preciso para obtê-los.
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Informalidade: característica predominante de quem possui preferência por ambientes informais e livres, com poucas regras.
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Trabalho em equipe: clássico de pessoas que preferem ambientes onde as decisões e responsabilidades são compartilhadas e cujo foco seja menos no individual e mais na equipe.
Todos nós possuímos as oito características, em níveis diferentes, de modo que algumas se destacam. Toda organização também valoriza mais ou menos cada um desses aspectos, dessa forma saber com quais você mais se identifica te ajuda a escolher uma empresa com a qual você seja mais compatível e, consequentemente, se sentirá melhor fazendo parte.
Vale lembrar que um funcionário alinhado se ambienta mais rapidamente e tem maior felicidade no trabalho, sendo benéfico tanto para a experiência colaborador quanto para a empresa, que o retém. Esse fit (ou alinhamento), além das características associadas ao ambiente profissional, leva em consideração também os estilos de trabalho. Existem quatro principais, que podem ser encontrados sob diferentes nomes:
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Executor: é o tipo de profissional que valoriza as conclusões das tarefas, a estabilidade, a ordem e a padronização. Geralmente, essas pessoas têm muito foco, são pragmáticas, detalhistas, muito esforçadas e não gostam de arriscar. Perfeccionistas e preocupados, só param de trabalhar quando o trabalho é finalizado. Porém, muitas vezes, a comunicação com o resto da equipe pode ser falha, assim como costumam ser mais diligentes na hora de adotar novidades.
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Líder: são os responsáveis por criar uma visão e inspirar outros colegas a acreditar nela. Gostam de se arriscar e trazem mais energia e imaginação para a equipe. Um bom líder busca aproveitar cada oportunidade ou mesmo criar novas possibilidades. Eles tendem a não ser muito detalhistas e tomam decisões de forma rápida e espontânea. Um problema desses profissionais é que eles podem não esperar pelas outras pessoas, quando desenvolvem uma ideia e são impulsionados por isso.
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Amante: são as pessoas que promovem relacionamentos duradouros. Elas acreditam que somos mais fortes juntos e prosperam em harmonia para gerenciar relacionamentos e construir consensos. São diplomáticos e estão sempre promovendo a união da equipe e conectando pessoas. Geralmente esses profissionais são sensíveis, simpáticos e empáticos, conseguem entender o contexto geral e a importância de cada um no time e não tem problema nenhum em trabalhar em equipe.
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Aprendiz: esse tipo de profissional adora aprender e entender as nuances de um problema. Eles são muito disciplinados e tendem a pensar mais lógica e estrategicamente do que a maioria das pessoas. Eles são focados nos objetivos e sentem-se mais seguros quando há um debate na tomada de decisão. Logo, a fim de executar os seus melhores planos, eles precisam de uma equipe pronta para agir.
Apesar de ser mais fácil conviver com pessoas parecidas, uma organização precisa ser diversa e conter um equilíbrio entre todos os tipos para funcionar melhor, isso porque as características de cada um se complementam e diferentes visões são adotadas. Também é muito importante o líder saber reconhecer e explorar os estilos de cada um, dessa forma o desempenho geral da equipe e de cada colaborador é aprimorado.
Ficou com curiosidade de identificar seus estilos de trabalho? Deixo como indicação o teste da Fundação Estudar: https://www.napratica.org.br/entenda-o-teste-de-estilo-de-trabalho/.
Ainda dentro do tema, outro importante conceito a ser explicado são as âncoras de carreira, você já ouviu falar delas? Você sabe dizer o que te faz ou faria acordar disposto para ir ao trabalho? O que te deixa motivado? Edgar Schein, especialista em desenvolvimento organizacional e ex-professor de Gestão da Sloan School Of Management - MIT, queria entender o que motivava as pessoas para fazerem o que faziam e criou uma teoria baseada nas âncoras de carreira.
A âncora, caso não saiba, é a parte de um navio que faz com que ele fique parado em um lugar no meio do mar. Você sabe o que te faz ficar em um lugar? O que te dá firmeza, força e tranquilidade? Edgar diz que a âncora de carreira é como a auto imagem de uma pessoa, aquilo que a faz única, que mostra o que quer e o que não quer e quais valores defende. E esta representação do próprio eu é formada conforme se vai tendo experiências de trabalho, ou seja, tem influência direta na carreira.
Há uma série de fatores que contribuem para a busca e permanência de um indivíduo em determinado emprego, sendo importante ressaltar que eles são únicos para cada indivíduo. Ter a percepção de nossas motivações, que muitas vezes podem ser inconscientes e atribuirmos causas equivocadas à elas, é importante para nosso autoconhecimento e realização pessoal e profissional.
Segundo Schein, as âncoras são pilares que norteiam as decisões de carreira de cada indivíduo, desse modo, por meio do teste o profissional pode descobrir quais delas têm maior peso em sua experiência de trabalho. Mesmo que este tenha sido criado já há um bom tempo, o teste de âncoras de carreira continua atendendo seu objetivo de ser um bom direcionador para a vida profissional.
Assim como nos estilos de trabalho, as pessoas geralmente oscilam entre os oito fatores das âncoras. Entretanto, na maior parte dos casos, existe um desses pilares que sustenta com maior força o caminho profissional de um indivíduo. Você consegue elencar as suas principais apenas lendo o nome de cada uma?
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Autonomia e Independência (AI) - consiste nas pessoas que buscam uma carreira que, com o passar do tempo, possibilite maior independência, onde consigam impor suas próprias condições. A autonomia é inerente a qualquer ser humano, em níveis diferentes, mas quem tem fortemente essa âncora sente a necessidade de ser dono de seu próprio destino, fazer as coisas do seu jeito. Por isso, não valorizam a padronização nas organizações e vão organizar sua vida profissional em torno de trabalhos que lhe proporcionem mais escolha e poder de decisão.
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Segurança/ Estabilidade (SE) - aqui se enquadram pessoas que precisam se sentir seguras no ambiente de trabalho. Elas valorizam uma carreira estruturada, um trabalho estável e previsível. Ainda buscam garantias de segurança, benefícios e pensam na aposentadoria. O foco são empregos de longo prazo, com maior previsibilidade do futuro, no qual o contexto importa mais que a natureza do trabalho em si. São atraídas por empresas que oferecem essa estabilidade, principalmente financeira, com bons planos de aposentadoria e boa reputação.
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Competência Técnica e Funcional (CTF) - são as pessoas que se comprometem com uma carreira de especialização. Elas ficam motivadas quando são peritos em um determinado assunto, buscam trabalhos desafiadores, querem testar o conhecimento e a habilidade que têm em sua área de atuação. Buscam exercitar seu talento e desenvolver sua capacidade pessoal na área de interesse de forma a se tornarem referência. Elas geralmente não visam altos cargos administrativos (essas, normalmente, são mais generalistas), e sim cargos de especialista.
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Competência Administrativa Geral (CAG) - é relativo a quem busca, ao longo de sua vida profissional, atingir os mais altos níveis de responsabilidade na organização. São pessoas que compreendem o negócio como um todo, visam a liderança e têm como motivação atingir o topo da hierarquia corporativa. Elas entendem a importância de conhecer as áreas funcionais, mas não buscam se especializar tecnicamente, pois querem a função de gerência-geral e associam o crescimento da empresa com seu próprio crescimento pessoal.
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Criatividade Empreendedora (CE) - compreende os profissionais com tino para a criação de novos negócios e organizações. Elas gostam de criar coisas, correr riscos e ter desafios. Não são pessoas necessariamente com criatividade artística, mas sim com um espírito empreendedor, que querem estabelecer ou reestruturar negócios próprios. Têm motivação para, desde cedo, iniciar empreendimentos para ganhar dinheiro. Vale ressaltar que o enfoque aqui não é a busca por autonomia, e sim pela criação de negócios.
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Dedicação a uma Causa (DC) - são pessoas que orientam sua carreira por valores que querem imprimir em seu trabalho. Elas se dedicam a causas, mais do que aos seus talentos e competências. São profissionais que querem, de alguma forma, contribuir para um mundo melhor por meio de seu trabalho. Geralmente, precisam sentir que estão influenciando as organizações em que atuam de acordo com seus valores pessoais. Uma das características mais marcantes é o relacionamento interpessoal e a devoção a ensinar e ajudar o outro.
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Desafio puro (DP) - se encaixam profissionais que definem sucesso como a superação de obstáculos impossíveis ou como a capacidade de solucionar problemas insolúveis. São pessoas que necessitam sentir que podem conquistar qualquer coisa. A busca por desafios permeia a carreira de quase todo mundo, mas, para quem é ancorado no desafio puro, é o que norteia a sua trajetória, de forma que todas as suas decisões profissionais vão sempre ser com o objetivo de superar desafios cada vez maiores.
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Estilo de vida (EV) - contém pessoas que buscam encontrar uma forma de integrar e conciliar todas as suas necessidades: individuais, de família e de carreira. Podem ser altamente motivadas pelo trabalho, mas entendem que ele deve ser apenas uma parte de sua vida como um todo. Elas querem, acima de tudo, flexibilidade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A diferença para a âncora da autonomia é que elas se adaptam bem ao ambiente organizacional, com suas regras e restrições, mas querem ter opções mais flexíveis de trabalho.
As âncoras representam a combinação única de cada um em relação à percepção de competências de carreira, motivações e valores. Sabendo quais são as suas, fica mais fácil encontrar a melhor empresa para você trabalhar, em que seu perfil esteja alinhado com a cultura organizacional. Se interessou? Segue um site para descobrir suas principais âncoras: https://agoraentert.com.br/teste-ancoras-de-carreira/.
Como última dica, deixo também a indicação de um site profissional que, além de ofertar o teste de âncoras de carreira, ainda disponibiliza diversas outras jornadas de desenvolvimento pessoal e profissional, assim como vagas de emprego em grandes empresas. É gratuito e vale muito a pena se cadastrar: https://www.bettha.com/mapeamento-de-perfil.
Você já conhecia essas divisões de estilo de trabalho? Acredita que esses conhecimentos vão te ajudar a tomar decisões mais assertivas em relação à sua carreira? Lembrando que o objetivo é te ajudar a ser mais realizado, não te limitar! Todos podemos evoluir, mudar ou nos adaptar a medida do necessário e dentro do possível.