
Por que se conectar com o outro?
Temos a necessidade de entender o mundo, entender as pessoas que compartilham ele conosco e entender a nós mesmos como parte disso tudo, daí surge a oportunidade de estudarmos as nossas relações através de um olhar mais humano e profundo. E nesse contexto que entra a empatia, como forma de expandir e de aprofundar nosso olhar, nossa escuta, nosso entendimento e nossa percepção.
Empatia, ao contrário do senso comum de ser colocar-se no lugar do outro, consiste na habilidade socioemocional de reconhecer e compartilhar uma emoção com outra pessoa, enxergando a situação do outro pela perspectiva dele, não pela sua. A empatia nos permite identificar, entender e responder ao que o outro sente, conduzindo nossas ações de forma mais consciente e responsável.
Para conseguirmos nos colocar no lugar do outro, ampliando nossas perspectivas e melhorando nossos relacionamentos, é imprescindível a identificação pelo outro e a geração de uma genuína conexão entre os dois. Portanto, a falta desta é chamada de gap da empatia, que é justamente causado pela dificuldade de se conectar com quem você menos se identifica e menos conhece.
A empatia não se apresenta de apenas uma maneira, há três tipos dela que são percebidos com intensidades diferentes de conexão, são eles a empatia:
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cognitiva: que ocorre quando você entende o que a outra pessoa está pensando e sentindo, como quando você assume a perspectiva de alguém durante uma negociação comercial;
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emocional: é quando você realmente se coloca no lugar do outro e sente sua emoção. Esse é um tipo de resposta que, quando não limitado, pode levar a um esgotamento, por exemplo quem cuida de sobreviventes de guerra;
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compassiva: onde você sente preocupação com o sofrimento do outro, mas de uma distância maior e com um desejo de ajudar a pessoa necessitada.
Qualquer um desses modos de expressar empatia possuem dois elementos base que compõe a empatia, que são o:
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cognitivo (o pensar): envolve nossa capacidade de racionalmente compreender ou imaginar o que o outro pensa e sente;
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afetivo (o sentir): consiste na nossa capacidade de se conectar e compartilhar o sentimento do outro, ocorre principalmente quando já experimentamos sensações parecidas.
Para uma empatia completa, ou seja, conquistar o objetivo final de conexão verdadeira, é necessário ter esses dois elementos. Precisamos, ao mesmo tempo, ser capazes de compreender racionalmente a situação do outro e imaginar como se sente e, também, se deixar tocar emocionalmente pelos seus sentimentos.
Estamos acostumados à famosa regra de ouro de que devemos fazer aos outros o que gostaríamos de que fizessem com a gente. Mas, com isso, alimentamos em nós a tendência de agir com o outro da maneira que faz mais sentido para nós mesmos. E, dessa forma, ignoramos o fato de que as pessoas são diferentes e, por isso, respondem às situações de diferentes formas.
A maneira como uma pessoa gostaria de ser tratada em determinada situação não é, necessariamente, igual a como o outro gostaria de ser tratado. A empatia exige que sejamos capazes de, antes de mais nada, enxergar quem é o outro e como podemos nos relacionar e responder de uma forma que faça sentido não para nós mesmos, mas para ele, com suas vivências.
Essa falta de compreensão do outro, que em geral é muito diferente de nós mesmos, nos faz julgar as suas ações e os seus comportamentos com base na nossa perspectiva. Porém, como geralmente não sabemos o que está se passando verdadeiramente com o outro, chegamos a conclusões equivocadas. E 90% dos nossos sofrimentos acontecem por causa das nossas interpretações.
Diante de uma situação, o que comumente acontece é:
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percebemos fatos e dados
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escolhemos alguns desses dados (mesmo que inconscientemente)
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interpretamos esses dados da nossa maneira
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criamos hipóteses
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tiramos conclusões
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criamos convicções
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decidimos e agimos com base nelas
Isso pode acabar virando uma bola de neve ou um telefone sem fio, no qual um pequeno acontecimento, como, por exemplo, a falta de um "bom dia" um dia pode gerar o distanciamento do outro por este achar que o indivíduo é mal educado ou que não gosta de si... sendo que na verdade podia ser apenas uma notícia muito ruim recente, um problema urgente que demandou muita atenção, etc.
Dessa forma, é sempre importante perguntar e procurar saber sobre o outro, sem criar hipóteses com bases em julgamentos baseados na sua história e sua vivência. Os julgamentos, ou seja, a atribuição de juízo de valor, funcionam como uma forma de bloqueio da empatia e, por isso, devem ser evitados. Além deste, há outras situações que atuam também como obstáculos da empatia:
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Aconselhar ou educar: ocorre quando tentamos resolver o problema do outro, mas esta tentativa é feita com base nas nossas percepções e a empatia é justamente entender o outro;
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Competir: são momentos em que começamos a citar situações maiores, sejam elas piores ou melhores, para "ganhar a discussão". Isso não nos leva a nada e deveríamos apenas ouvir o outro, sem desqualificar seu problema ou desmerecer sua conquista;
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Consolar: sentir pena ou dó das pessoas é uma forma de reduzi-las, de colocá-las como vítima. Muitas vezes as pessoas não se veem nessa posição e podem se sentir incomodadas com sua reação;
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Encerrar o assunto: mesmo sendo assunto recorrente, se a pessoa está repetindo é porque ela ainda precisa falar sobre aquilo, seu papel para conquistar a empatia é escutá-la.
A empatia é um dos pilares da inteligência emocional, que na definição de Daniel Goleman é a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos. Portanto, a empatia é a base para algumas outras soft skills que são habilidades urgentes para o aperfeiçoamento da qualidade de vida de todas as pessoas, tanto na vida pessoal quanto na profissional.
Muitas vezes não enxergamos nossas limitações de visão, de comunicação e de conexão. Não identificamos forças limitantes que nos distanciam uns dos outros, nos distanciam de nós mesmos e do mundo que é, no fundo, aquele que realmente queremos reconstruir. Ao investigarmos a raiz dos problemas do mundo, nos damos conta de que todos eles começam do mesmo lugar. O desequilíbrio está na desconexão entre as pessoas. Ou melhor, na falta de empatia entre elas.
Estarmos cercados de problemas nos apavora. Cada um vive dia após dia da maneira que consegue, alguns tentam construir um mundo que tenha, pelo menos, menos problemas, enquanto outros querem virar a coisa toda de cabeça para baixo e mudar o mundo de vez. Embora o princípio do desequilíbrio da nossa sociedade esteja na crise das relações e na falta de coletividade, a luta continua sendo de um a um, na busca da cura do mundo pela cura de si mesmo.
O funcionamento da nossa espécie em nível biológico gira em torno da necessidade de conexão, pertencimento e socialização, independente do contexto. No entanto, a forma como nós temos nos relacionado reflete alguns padrões problemáticos da sociedade. A forma como a gente enxerga o outro, como a gente escuta o outro e como a gente se conecta com ele, precisa mudar se quisermos construir um mundo mais pacífico, mais sustentável e mais colaborativo para todo mundo.
Ninguém sozinho consegue mudar o mundo, mas este precisa do máximo de ajuda de cada um para se recuperar. A empatia está no entendimento, e não na tentativa incansável de transformar ou solucionar uma situação. A empatia não procura uma resolução, não corre atrás do futuro, mas sim te coloca no presente. A empatia é sobre compartilhamento, seja ele de sentimentos ou de sensações boas ou ruins. É uma conexão que abrange as camadas mais profundas do ser.
É na cura da agressividade da não-escuta e do não-entendimento o primeiro passo para a construção de relacionamentos mais próximos e verdadeiros. É demonstrando compaixão sem o desejo de receber nada em troca. É se desarmando e dando abertura para o outro se desarmar também. Ser empático é olhar, escutar e sentir o que o outro vê, escuta e sente. Empatia é a mais pura conexão entre um ser humano e outro.
Todos nós possuímos o sistema de neurônio espelho. É dele que vem nossa habilidade de repetir gestos simples e complexos, imitar pessoas e aprender coisas novas. É o que nos torna capazes de empatizar. Pois ele nos transmite a sensação do que observamos no outro como se acontecesse dentro da gente. Somos empáticos por natureza. Embora a empatia seja parte da composição do nosso cérebro, nem todas as pessoas sentem empatia da mesma forma ou na mesma intensidade.
O lado positivo é que contamos com a neuroplasticidade, que é a habilidade do nosso cérebro de se reestruturar e se recuperar. A plasticidade do cérebro é responsável pela nossa capacidade de nos tornarmos proficientes em uma habilidade, seja qual ela for. Desse modo podemos desenvolver a empatia ao exercitar o olhar cuidadoso e a compaixão, assim as rotas que se constroem a partir dos seus neurônios espelho se tornam cada vez mais naturais.
Entendendo sua importância, nos descobrimos na posição de vontade de desenvolver a empatia. Esta é um processo, que apesar de complexo pode ser dividida em etapas para facilitar. Uma das melhores formas de aprimorar a empatia é utilizando a comunicação não violenta, também conhecida como comunicação empática, que consiste em 4 passos:
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Observação: ouvir o outro com curiosidade, com atenção e sem julgamento. Vale perguntar para focar a conversa, parafraseando o que foi dito e testando seu entendimento, mas sem julgamento, sem avaliar e analisar, apenas observando os fato.
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Sentimento: explorar as emoções e os sentimentos envolvidos, sem rótulos. Também é preciso refletir se é o melhor momento de discutir, emoções fortes demais não permitem a conexão.
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Necessidade: estimular a identificação do que a pessoa precisa. Descobrir o que tem por trás daquele sentimento ou comportamento do outro.
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Pedido: fazer com a proposta de negociar ou incentivar. Necessita de assertividade, explicitando o fato específico observado anteriormente.
Além da CNV, há outras dicas que auxiliam o desenvolvimento da empatia, como:
1 - Auto-observação: precisamos ser capazes de observar e conhecer a nós mesmos para podermos perceber o outro. Empatia é sobre os sentimentos do outro, mas não conseguimos compreender com profundidade e propriedade os sentimentos de outro ser humano sem antes compreender os nossos próprios sentimentos.
Conseguindo observar com mais clareza a dinâmica por trás do desencadear de nossos sentimentos e entendendo as motivações por trás de nossas ações, chegamos mais perto de entender os mecanismos de outras pessoas, mesmo estes sendo diferentes. Adquirir mais consciência de nossos estados emocionais, nos ensina a reproduzir esse comportamento nos outros.
Sugestão: Observe suas emoções e reações. Escreva: FATO – SENTIMENTO - REAÇÃO – INSIGHT (mapa da empatia). Ao tirar insights e verificar padrões, você já consegue antecipar ou lidar com futuras situações de si e perceber mais facilmente padrões iguais ou parecidos nos outros.
2- Fomentar sua curiosidade genuína pelo outro: a maior das chave para a conexão é o interesse. Vivemos tomados por uma correria tão maluca no dia a dia que, às vezes sem perceber, passamos pelas pessoas ou convivemos com elas como se fossem invisíveis. Cruzamos com uma quantidade absurda de vidas na mais sutil indiferença.
A empatia é um exercício da expressão do nosso interesse sincero, aberto e humano pelo outro. Esquecemos de olhar o outro nos olhos, de perguntar genuinamente como ele está, de escutar o que ele tem para dizer ou simplesmente dar atenção a sua presença no momento em que ele está diante de nós.
Sugestão: Converse com alguém que você não é muito próximo, tenha mais conversas profundas
3 - Escuta ativa: aprender a ouvir o outro também faz parte da comunicação e é um do exercícios mais valiosos dentro da prática da empatia. a escuta genuína do outro promove seu entendimento e é o primeiro passo para a construção de relacionamentos mais próximos e verdadeiros. Ser empático é a escolha de tirar de si todas as armas internas que te afastam das pessoas.
Existe a teoria U que classifica a escuta em 4 níveis:
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Piloto automático: estamos ouvindo a pessoa falar, mas não absorvemos a informação compartilhada, simplesmente porque não estamos escutamos com interesse. É uma escuta sem profundidade.
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Escuta objetiva: você não está realmente interessado no que o outro tem a dizer, mas sim no que você concorda e discorda daquilo que ele diz. Discussões e debates são o cenário mais propício para que esse nível de escuta e diálogo ganhe força.
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Escuta empática: a empatia entra em cena. Estamos falando daquelas conversas em que estabelecemos uma conexão emocional com o outro, escutando seus pensamentos, sentimentos e necessidades de maneira atenta.
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Escuta generativa: diálogos em que algo novo é gerado. É aquele tipo de conversa em que todo mundo entra no ritmo, a discussão ganha flow e os insights começam a surgir naturalmente. Nela há maior profundidade e colaboração.
Sugestões: Esteja verdadeiramente presente na conversa; Suspenda seus julgamentos; Manifeste interesse pelo o que o outro tem a dizer; Esteja aberto a novas opiniões e pontos de vista.
Fomos ensinados desde cedo a criarmos uma fortaleza interna que deixa à mostra apenas nossa versão mais forte, confiante, competente e plena, mesmo sabendo que ela não é a única versão verdadeira e que nos distancia das pessoas. A transparência e a vulnerabilidade são vistas como fraquezas em nossa sociedade e devem ser evitadas. É essa a origem de grande parte dos desafios da empatia, a dificuldade de sermos nós mesmo com honestidade.
Na vida profissional é ainda mais claro esse obstáculo. Não estamos acostumados a compartilhar nossas dores e desafios pessoais no trabalho. Fomos educados e treinados a guardar nossos sentimentos no ambiente profissional, na crença de que não há espaço para ser humano no trabalho. E onde não há espaço para demonstrarmos nossos sentimentos, não há espaço para sermos nós mesmos nem nos conectarmos.
Quanto mais nos fechamos, menos verdadeiros somos com o outro, o que faz com que qualquer pessoa naturalmente se feche ainda mais na hora de compartilhar com nós seus sentimentos. Porque, como dito, os humanos espelham o que oferecemos a eles. A empatia não é uma técnica de como se conectar com o outro lá de trás da sua fortaleza. É um estilo de vida que elimina toda e qualquer barreira invisível entre você e o outro. Por isso, depende por completo da vulnerabilidade.
Para criar conexões empáticas profundas, é fundamental que você se permita ser o mais humano e verdadeiro possível, deixando-se abrir para aquela pessoa, e não a fim de controlá-la, mas de criar entre vocês uma relação de confiança, compreensão e segurança emocional. É isso que te fará realmente forte e, é claro, mais empático. A empatia é um motor para a colaboração e para a liderança, outras soft skills essenciais para sua vida.